Informatização Rural no Brasil: Tendências, Limitações e Potencial – Situação Atual da Informatização Rural no Brasil.

Este artigo discute sobre o uso da informática no meio rural do Brasil, abordando o momento vivido pelo agronegócio nacional, como uma atividade altamente competitiva, onde o uso dessa ferramenta de apoio gerencial na tomada de decisões se faz relevante apresentando tendências, limitações e potencial da utilização dessa tecnologia na atividade.

O agronegócio vem se destacando como um dos setores mais importantes da economia brasileira. Segundo Haddad (1999), este setor teve uma participação significativa na economia nacional, contribuindo com 30% na formação do PIB, empregando mais de 35% da população economicamente ativa no país e respondendo por cerca de 40% das exportações.

Com a criação da Organização Mundial do Comércio, houve a abertura do mercado mundial, a internacionalização da economia e, o surgimento das facilidades de comunicação. Desta forma os agentes econômicos do agronegócio têm sido colocados diante de um mundo que apresenta mercados cada vez mais integrados, exigindo padrões de concorrência que requerem competência e vantagens competitivas em termos de produção, processamento, distribuição e comercialização dos produtos.

Embora a aplicação da informática seja ainda bastante incipiente no meio rural, principalmente quando comparada a outros setores, não se pode negar a existência de um bom número de softwares específicos no mercado nacional e portais agropecuários. Corroborando essa afirmativa, Vale & Santos (1998), citando o Guia Agrosoft 97, relata a existência de 146 títulos de programas destinados exclusivamente ao setor agropecuário.

No contexto agropecuário, pode-se afirmar que foi na década de 80 que a informática começou a ser utilizada pelas organizações do setor, naquela época era maior o uso de softwares direcionados prioritariamente ao setor administrativo, tais como contabilidade, faturamento, contas a pagar/receber, fluxo de caixa e folha de pagamento.

Atualmente, observa-se que os softwares aplicativos são utilizados em atividades mais específicas, como gerência da colheita de café, gerência do rebanho leiteiro e de corte, balanceamento de ração, planejamento da produção agrícola, controle de plantio e dos custos de produção, dentre outras.

Empresas Rurais
Estudo recente realizado na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) unidade Gado de Leite por Teixeira (1998), em parceria com as principais compradoras de leite do País, responsáveis por cerca de 70% da produção nacional de leite, constataram que, nas 162 unidades produtivas visitadas, em torno de 5% possuíam microcomputadores, e que, menos da metade utilizava esse ferramental para o gerenciamento técnico financeiro-econômico da atividade leiteira.

De acordo com Lemle (2002), os empresários rurais internautas são desconhecidos do governo, embora as multinacionais do setor de agronegócios fabricantes de máquinas, sementes, defensivos, fertilizantes e outros insumos agropecuários encomendaram recentemente ao instituto alemão Kleffmann, especializado em estudos do mercado agrícola, um perfil do produtor brasileiro de soja. O levantamento mostra que, dos 1.400 produtores de soja pesquisados, 32% possui microcomputador e quase 19% (261), têm conexão à Internet, destes, 16% já compraram produtos pela rede e o principal uso da web é o de buscar informações climáticas, estatísticas, técnicas e, sobretudo preços de produtos agropecuários.

Entre os produtores de soja conectados, apenas 5% são considerados pequenos, isto é, cultivam até 100 hectares de terra. A situação é crítica, porque justamente quem mais se beneficiaria das informações seriam os pequenos produtores, já que não dispõem de outras fontes de informação.

O instituto Kleffmann, em pesquisa recente divulgada pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMR&A) divulgou na safra 2003/2004 que 60% dos produtores brasileiros costumam buscar informações com técnicos ligados á atividade; destes, 26% são do governo, 16% buscam informações com o revendedor de produtos agropecuários e 6% procuram informações no sindicato que o representa.

Com relação ao tipo de informação, os produtores preferem informações sobre métodos de combate a pragas e doenças 51%, técnicas de cultivo representando 29% da preferência e crédito representando 3% das informações solicitadas. A mesma pesquisa informa que 97% dos produtores assistem à TV, 75% escutam rádio, 47% lêem revistas ou jornais agropecuários e 29% já consultaram Internet para auxiliar as atividades.

Cooperativas
Estudo realizado por Protil (1999) sobre implantação de sistemas de gestão integrada em cooperativas agroindustriais indicam que estas organizações, a fim de obterem maior legitimidade e aceitação em seu meio, freqüentemente incorporam em sua cultura organizacional e em seus comunicados oficiais o discurso empresarial próprio do modelo informacional, enquanto que na prática, adotam apenas alguns sistemas de informação, ferramentas e práticas organizacionais.

Nesse particular, diagnóstico realizado pela SEBRAE-MG (1997) identificou que 73% dos laticínios com SIF (Sistema de Inspeção Federal) e 32% sem SIF, instalados no Estado de Minas Gerais, possuíam microcomputadores, cujas utilizações resumiam-se às tarefas básicas de controle.


Infra-estrutura
A reforma agrária digital depende, em primeiro lugar, da melhoria da infraestruturade telecomunicações no interior. Segundo Lemle (2002), apenas 350 municípios brasileiros têm provedores; isto representa somente 6% do total de municípios. O Sudeste concentra 58% dos serviços, seguido pelo Sul (19%), Nordeste (11%), Centro-Oeste (7%) e Norte (5%). Quando não há cabeamento de telefonia e fibra ótica, a alternativa seria o acesso por satélite ou rádio; porém, essa alternativa, no momento, ainda é cara e fora do alcance da realidade do empresariado rural brasileiro, em geral, tanto quanto o uso do computador.

Segundo Oliveira (2001), dados da Organização das Nações Unidas (ONU), relativos a 2000, mostram que apenas 7,2 em cada mil brasileiros estão ligados à Internet, esse número é próximo ao da Argentina (8,7) e do México (9,2), mas significativamente inferior ao dos Estados Unidos, onde 179,1 habitantes em cada mil estão conectados à rede mundial. Para Silva Jr (2001), a principal e mais evidente contribuição da Internet para agropecuária tem sido a disponibilização de informações, que cobrem ampla variedade no setor.

De acordo com mesmo autor, o uso correto da informática pode oferecer ao agronegócio recursos avançados, em que doenças de plantas ou animais são diagnosticadas a partir de informações prestadas pelo agricultor, além de cursos e treinamentos, que se encontra em rápido processo de expansão.

Limitações
São inúmeras as limitações para a implantação e desenvolvimento de sistemas de informação em empresas rurais e cooperativas agropecuárias, como limitações de caráter geral, comuns às fazendas e cooperativas agropecuárias, pode-se citar a falta de pessoal especializado para desenvolver softwares operacionalmente funcionais, no desenvolvimento de sistema especialista, a maior limitação tem sido a construção da base de conhecimento.

Entre outras, as principais limitações identificadas para informatização de empresas rurais foram; a idade média avançada dos empresários rurais, a migração dos filhos para outras atividades nas cidades, o baixo nível de escolaridade, a falta de recursos financeiros para aquisição de equipamentos, material de informática e treinamento de pessoal, a precariedade ou ausência dos serviços de telefonia e energia elétrica e a ausência de provedores de acesso à Internet.

Potencialidades
A informática, sem dúvida, foi uma das áreas da ciência que mais rapidamente se desenvolveu e se difundiu no final do século passado. Os equipamentos de informática tornaram-se mais eficientes e acessíveis, em termos de preços, assim como os softwares, tornaram-se mais acessíveis e de melhor compreensão e operacionalização.

Considerações Finais
Existem dificuldades inerentes (cultura, educação, infra-estrutura, custo, manutenção e assistência técnica) à difusão da informática na agropecuária; essas dificuldades são agravadas pela inexistência de programas públicos e privados para sua difusão que permitam garantir aos usuários uma utilização adequada dos produtos. A difusão da informática depende tanto de atores institucionais como dos tradicionais grupos locais de ajuda mútua e cooperação, pois, além de reduzir os custos financeiros (aquisição em conjunto), o trabalho em grupo reduz o “custo psicológico” do aprendizado dessa nova tecnologia.

A principal sugestão seria desenvolver um estudo para quantificar as potencialidades e limitações que as fazendas, cooperativas agropecuárias e associações de criadores possuem para implementar o uso efetivo da informática e aplicação da tecnologia da informação na atividade-fim, nas principais regiões produtoras do País.

Referências
•HADDAD, P.R. A concepção de desenvolvimento regional. In: Haddad, P.R. et al. (Ed.). A competitividade do agronegócio e o desenvolvimento regional no Brasil; estudo de cluster. Brasília, DF: CNPq/Embrapa, 1999, p. 9-35.

•KLEFFMANN, Instituto. Perfil Comportamental e Hábitos de Mídia do Produtor Rural Brasileiro. São Paulo, SP: ABMR&A, 2005.

•LEMLE, M. Celeiro do mundo globalizado. Caderno Internet, p. 1. Quinta-feira, 2 de maio de 2002. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 2002.

•OLIVEIRA, G. Revolução tecnológica democratiza o conhecimento. Caderno Dinheiro. p. 2. Sábado, 22 de setembro de 2001. Folha de São Paulo. São Paulo, 2001.

•PROTIL, R.M. Avaliação da implantação de um sistema computacional de gestão empresarial (ERP) em uma cooperativa agrícola. In: Congresso da SBI-Agro, 2., Campinas, Anais… Campinas, SP: SBIAgro, 1999.

•SEBRAE-MG. Diagnóstico da indústria de laticínios do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG: SEBRAE-MG, 1997. 270p.

•SILVA JR. A.G. da. Impacto da Internet no agronegócio. Economia Rural, Viçosa, MG, 1(12): 14-16, 2001.

•TEIXEIRA, N.M.; VALENTE, J.; BUENO, J.H. A estrutura de produção de leite em fazendas de criação de gado holandês no estado de Minas Gerais. Juiz de Fora, MG: EMBRAPA-CNPGL, 1998. 48 p. (EMBRAPACNPGL. Documentos, 63)

•VALE, S.M.L.R. do; SANTOS, H. do N. Considerações sobre o uso da informática a administração de empresas rurais. Economia Rural, Viçosa, MG, 9(3): 23-25, 1998.

•ZAMBALDE, A. L. 2000, “A informática na modernização do sistema agroindustrial do café no Estado de Minas Gerais”. Rio de Janeiro/RJ: COPPE-UFRJ (Tese de Doutorado).

¹Administrador de Agronegócio / Diretor Geral da Mandacaru. e-mail: diretoriageral@ongmandacaru.org.br